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Engraçado perceber que só visito este blog quando faço aniversário. Há tempos tenho essa “task” no meu “backlog” de visitar e atualizar essa pocilga com maior frequência, mas a vida anda tão corrida. E, diferente do que coaches e gurus de internet vendem para a população, muitas vezes o “quem quer, dá um jeito” não funciona da forma como gostaríamos. Dizer que “não temos tempo” pode parecer uma desculpa esfarrapada e, muitas vezes, é, mas o que não temos, realmente, é energia.

Dos dias da semana, não me lembro do último em que eu não cheguei em casa completamente esgotado. E não estou romantizando o fato de estar atarefado, muito pelo contrário, gostaria de usar o tempo que me sobra fazendo coisas que eu deveria fazer. Porém, na maioria das vezes, tento fazer coisas que me exigem o menor esforço mental possível.

“Falta planejamento” disse um mentor que nunca trabalhou no meio corporativo. Foi a nossa última sessão.

Acredito que é aqui, entre os 35 e os 40, onde descobrimos o real valor da saúde x tempo. Não me adianta ter tempo, se não tenho saúde. E preciso cuidar da saúde enquanto estou sem tempo. É complexo e beira a insanidade dentro de uma agenda completamente lotada. Porém, assim como priorizamos tarefas, prazos e decisões, precisamos priorizar o que nos dá satisfação e vontade de viver.

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Escrevendo este texto com quase um mês de atraso. Outubro foi um mês bastante ocupado em todos os sentidos: Trabalho, estudos, relacionamento, amigos, etc. Passou tal qual um furacão e deixou seus rastros para os dois últimos meses do ano.

Mas completar trinta e três anos (nobody likes you when you’re twenty thirty three) me fez refletir pouco sobre a minha trajetória na vida. Já fui muito mais reflexivo outrora, mas ultimamente só penso em “organizar” a casa. E quando menciono “casa”, me refiro a construir novamente um lugar pra retornar. Nos últimos anos peregrinei por locais temporários, incluindo a casa de minha mãe, até que conseguisse poupar um pouco para adquirir algo.

E consegui. Ou melhor, conseguimos. Gabriela e eu decidimos morarmos juntos de vez e compramos um apartamento. Sabendo que muitos gurus de investimento são completamente contra essa prática, é reconfortante saber que temos o nosso lugar. Não sabemos o que o futuro nos guarda, obviamente, mas a vida fica mais tranquila tendo um lugar para voltar todos os dias. E as coisas ficam ainda mais fáceis quando esse lugar é uma pessoa. Coisa de casal.

No meu aniversário de trinta e três anos eu decidi, mais uma vez, convidar os amigos mais próximos e a família. Foi um dia tranquilo na chácara, assamos uma tradicional costela gaúcha e, pela tarde, fizemos um som com a minha atual banda (Rádio California).

Provavelmente eu não comemore dessa forma em 2024, mas foi legal ter as pessoas que eu amo reunidas novamente. É difícil mensurar o tanto que a minha vida mudou nestes dois últimos anos, mas eu estou feliz. E acho que é isso que importa.

Tirando todos os problemas com ansiedade, incerteza e muito trabalho, tenho me saído muito bem. Queria ter tido mais tempo de vir aqui.

Talvez coloque um lembrete para visitar esse lugarzinho mais vezes.

Textos dos aniversários anteriores: 32, 30 e 28.

32

Sempre detestei comemorar o meu aniversário. Não via sentido em alegrar-me por ficar mais velho. Muito menos compartilhar esse momento com as pessoas.

Olhando para trás, nestes meus trinta e dois anos, menos da metade disso foi pretexto para reunir os amigos e comemorar. Por diversas vezes passei esta data sozinho, por escolha própria, mesmo. Por muito tempo me escondi no personagem melancólico que criei para terceirizar minhas culpas em todos os aspectos possíves.

Mas esse ano foi diferente. Decidi que era hora de comemorar. E num instante de euforia pura, convidei minha família e alguns amigos para comerem um churrasco comigo. Este ano têm sido tão bom comigo que eu achei que era hora de celebrar.

E foi a melhor decisão que eu tomei. Passei um sábado inteiro com todas as pessoas que eu amo juntas de mim, rindo, conversando, se divertindo. Recebi muitos abraços e felicitações sinceras.

Fui feliz. Sou feliz.

30

Expect no more of anyone than you can deliver yourself.

Quando eu era criança, costumava dizer para a minha mãe que “viver até os 30 anos, para mim, era o suficiente”. Hoje, completando três décadas e, apesar de sentir que já vivi um bocado de coisas, tenho consciência de que ainda não vivi o suficiente.

Talvez nunca seja o suficiente.

Seguimos.

Odiar não é o caminho

“When I was a kid I was full of hate”

Uma das pautas mais fáceis de desenvolver é quando você pode falar de algo que tem experiência. Contar sua história é uma maneira inteligente de aprimorar a escrita e, talvez, auxiliar alguém que possa estar perdido em uma decisão.

É sério. Ou por quê você acha que os mais velhos sempre dizem que você deve respeitá-los? Está na cara. É a experiência.

Por mais quadrada e antiga que uma pessoa seja, ela tem uma história. Assim como eu, você e todas as outras pessoas no mundo. Se você olhar para trás, vai perceber que já percorremos um longo caminho até aqui. Agora imagine alguém com o dobro da sua idade?Imagine sua avó, seu avô, seu pai, sua mãe…

A vida, por mais sinuosa que seja, acaba nos levando para caminhos parecidos. Problemas de cinquenta anos atrás ainda são os mesmos. Por isso, quando alguém lhe disser que já passou por isso e você deve agir de tal forma para superar, acredite. Mesmo que você não entenda na hora, com o tempo tudo fará sentido.

Quando eu era pequeno, com seis ou sete anos de idade, eu era cheio de ódio. Tudo me irritava muito. Se algo não se tratava de mim, não me interessava. E eu fui assim por muito tempo, porém a convivência foi me ensinando a viver pacificamente com as pessoas ao redor.

Até os dezessete anos eu ainda tinha aquele ódio mortal de algumas coisas, pessoas, lugares e situações. Eu julgava. E julgava muito. Eu sentia nojo das pessoas simplesmente por olharem para mim. Eu não suportava o jeito que elas conversavam ou caminhavam. Talvez isso tenha se intensificado na adolescência, época sombria de rebeldia que eu atravessei a contragosto.

Mas o tempo me bateu com força. Ele não me ensinou pacificamente, pelo contrário, me espancou até que eu aprendesse a dar valor a algumas coisas.

Uma dessas coisas não era bem uma coisa, mas sim uma pessoa. Uma pessoa que, assim como eu, aprendeu com os erros da vida. Das histórias que ouço sobre ela, de 75 a 80% são atos reprováveis.

Mas, ao final, essa pessoa já não era a mesma. Se arrependeu de tudo de ruim que outrora fizera para outras pessoas, vivia em paz e na solidão.

Eu nunca a odiei, mas não me importava com o que ela falava. Eu não gostava de visitá-la porque sua casa tinha cheiro de cachorro. E, realmente, haviam três cães bem velhinhos dividindo a calmaria de uma casa solitária com a figura.

Sabe, a vida só nos mostra as coisas boas que uma pessoa faz quando ela já não está mais aqui para fazer. Os bons momentos só são lembrados quando sabemos que eles não vão mais existir.

E como eu havia dito antes, o tempo me bateu. E essas feridas aumentam com o passar dos anos, pois eu sei que nunca mais terei a chance que tive de amar o meu avô, que tanto me amou mesmo sendo uma pessoa horrível. Quase nove anos que eu não tenho mais os conselhos do cara mais experiente da vida que eu já conheci. E, puta-que-o-pariu, como eu amava conversar com ele.

A mensagem do dia é essa, meus amigos. O ódio nos causa uma cegueira intensa que não nos permite reconhecer as coisas boas enquanto é tempo. Aproveite os dias e ame.

 

26

Um costume que eu tinha até tempos atrás, no meu antigo blog, era fazer um post no dia do meu aniversário. Nele, eu escrevia sobre as minhas vontades e conquistas alcançadas até o momento.

Neste, vou apenas deixar a minha idade. Sim, estou chegando aos 30.

Uma carta ao meu eu de 18 anos

Fazer dezoito anos é um momento mágico na vida de qualquer um. Não adianta negar, você espera por esse dia desde o dia em que entende as consequências positivas que essa idade pode te trazer. É um momento de transição onde você se imagina na faculdade, indo à festas com seus amigos, dirigindo o carro dos seus pais ou, quem sabe, com o seu próprio carro graças ao trabalho que você provavelmente terá. Você idealiza namoros com pessoas que nem existem e sequer irá conhecer algum dia, mas isso não importa. Não minta, você fez isso. Continue lendo “Uma carta ao meu eu de 18 anos”

Quando eu descobri que não era preguiça

Sempre fui muito elétrico, desde criança. Apesar de introvertido, sempre abusei de energia e ficava ligado por horas sem descansar. O tempo foi passando e eu achei que tinha algum tipo de superpoder.

Quando comecei a estudar programação e desenvolvimento, eu varava madrugadas acordado e ia dormir lá pelas 3 ou 4 da manhã. Isso para acordar às 6:30 e me arrumar para ir para o colégio. O motivo de fazer isso de madrugada? Quem viveu a era da internet discada sabe do que eu estou falando.

Eu tinha um site com alguns códigos e tutoriais que só era atualizado de madrugada. Era quando a conexão com a internet custava apenas um pulso do telefone de casa. Mas o assunto aqui é outro.

Eu dormia pouco e dificilmente me sentia cansado. Minha concentração era boa, eu bebia muito café, ingeria muito açúcar e me alimentava, basicamente, de lanches.

Mas como o tempo é implacável, ao longo dos anos eu comecei a me sentir mais cansado. Ao começar a praticar exercícios físicos e gastar mais energia, automaticamente eu necessitava de um descanso maior. E eu entendia isso. Só que não foi bem assim que funcionou.

Anos atrás eu comecei a sentir algo estranho: Preguiça. Eu sentia o cansaço me abatendo durante os dias, mal conseguia me concentrar e, sempre que podia, tirava um pequeno cochilo. Só que isso foi se agravando até o ponto em que, quanto mais eu dormia, mais me sentia cansado.

É louco, né?

Comecei a perder a vontade de fazer tudo. Tudo parecia tão difícil. Todas as manhãs era um sacrifício pra sair da cama, parecia que eu ia morrer de tão cansado. Os olhos pesavam de uma maneira desconfortável e eu me arrastava até o trabalho. Os estudos atrasaram, as provas chegaram e eu não estava preparado. Eu não queria ir na aula. Eu não queria trabalhar. Eu só queria ficar atirado, deitado, dormindo de preferência.

Comecei a lembrar o porquê do cansaço durante o dia: Eu não havia dormido o suficiente na noite anterior. E isso se repetia com tanta frequência que acabou por criar uma rotina e, como tudo que é rotineiro, é automático. Sendo assim, eu nunca lembrava o porquê daquela preguiça toda.

Mas um dia eu lembrei: Eu não descansei. Essa preguiça toda é porque eu não descansei direito.

Ingenuidade de minha parte, meu jovem. Porque eu descansava durante o dia e não era o suficiente. Eu não conseguia dormir à noite por outro motivo e não era falta de cansaço.

Uma consulta ao médico e bastou.

Insônia? Falta de vitaminas? Ansiedade e depressão.

Eu convivo com essa sombra desde então. E isso é muito sério.

Se você passa por isso ou conhece alguém que esteja com sintomas parecidos, aconselhe uma visita ao hospital. Isso é um distúrbio grave e não “frescurite” como muita gente pensa. Como eu pensava quando via minha mãe nesse estado.